quarta-feira, 6 de julho de 2011

Cavaleiros Teutônicos

Brasão dos Cavaleiros Teutônicos

A Ordem dos Cavaleiros Teutônicos do Hospital de Santa Maria em Jerusalém, ou apenas Ordem Teutônica, foi uma ordem religiosa católica alemã. Foi formada para ajudar os cristãos em suas peregrinações à Terra Santa e para estabelecer hospitais no sentido de cuidar dos doentes e feridos. Seus membros ficaram popularmente conhecidos como Cavaleiros Teutônicos, já que eles também serviam como ordem militar cruzada durante a Idade Média. A sociedade era sempre pequena e quando precisava crescer, voluntários e mercenários aumentavam as forças militares.

Constituída no final do século XII no Acre (atual Israel), no Mediterrâneo Oriental, a Ordem Medieval exerceu um papel importante na formação dos Estados Cruzados (Outremer, em francês), controlando o porto de Acre. Após as forças cristãs terem sido derrotadas no Oriente Médio, a Ordem mudou para a Transilvânia em 1211 para ajudar a Hungria contra os Cumanos (povo nômade de origem turca). Eles foram expulsos em 1225 após supostamente tentar colocar-se sob comando papal ao invés da nobreza húngara.

Após a Bula Áurea de Rimini (“bula áurea” era um decreto contendo um ornamento dourado representando um selo editado pelos imperadores bizantinos), o Grande Mestre Hermann von Salza (1179 – 1239) e o Duque Konrad I da Masovia organizaram uma invasão conjunta da Prússia em 1230 para cristianizar os antigos prussianos bálticos durante as Cruzadas Nórdicas. Os cavaleiros foram então acusados de ameaçar o domínio polonês e criar um Estado Monástico independente (Ordensstaat). A Ordem perdeu seus objetivos principais na Europa, quando o país vizinho da Lituânia adotou oficialmente o Cristianismo. Uma vez estabelecida na Prússia, a Ordem envolveu-se em campanhas contra seus vizinhos cristãos, o Reino da Polônia, o Grão-Ducado da Lituânia e a República Novgorod (Estado russo que ia do Mar Báltico até os Urais).

Os Cavaleiros Teutônicos possuíam uma economia forte, contratando mercenários por toda a Europa para aumentar seus domínios feudais e tornaram-se uma potência naval no Mar Báltico.

Armas do Grão-Mestre
Ordem dos Cavaleiros Teutônicos.
Em 1410, um exército polaco-letão derrotou decisivamente a Ordem e quebrou seu poder militar na Batalha de Grunwald (Tannenberg). Em 1515 em Viena, o imperador fez acordos de casamento e herança com Sigismund I (1467 – 1548) da Polônia-Lituânia. Depois disso, o imperio falhou em ajudar o Grande Mestre da Ordem Teutônica contra o mesmo. Assim, a Ordem rapidamente declinou até 1525 quando o Grande Mestre Alberto de Brandenburgo (1490 – 1568) abdicou e se converteu ao protestantismo, tornando-se Duque da Prússia. Os Grandes Mestres continuaram a comandar seus consideráveis empreendimentos na Alemanha e em outros lugares até 1809, quando Napoleão Bonaparte ordenou sua dissolução e a Ordem perdeu suas últimas possessões seculares. A Ordem continuou a existir, liderada pelos Habsburgos até a Primeira Guerra Mundial. Na Alemanha Nazista (1933 – 1945), apesar de Heinrich Himmler ter usado a imagem dos Cavaleiros Teutônicos para estabelecer as SS como uma Ordem, ela foi tornada ilegal por Hitler em 1938. Após 1945, ela retornou e hoje trabalha basicamente com objetivos humanitários na Europa Central.

Fundação

Em 1143, o Papa Celestino II ordenou aos “Cavaleiros Hospitaleiros” (uma organização cristã que começou como um hospital amalfitano* fundado em Jerusalém cerca de 1080 para ajudar os pobres, doentes e peregrinos à Terra Santa) a assumir a administração de um hospital alemão em Jerusalém que, de acordo com o cronista Jean d´Ypres, acomodava um número incontável de peregrinos alemães e cruzados que não falavam a língua local (isto é, o francês) nem o latim.

Entretanto, apesar de ser formalmente uma instituição dos Hospitaleiros, o Papa autorizou que aqueles e os irmãos do domus Theutonicorum (Casa dos Alemães) deveriam ser os próprios alemães, logo uma tradição de uma instituição religiosa com orientação germânica poderia se desenvolver durante o século XII na Palestina.

Lago Peipus
Reprodução em Cobre
Após a perda de Jerusalém em 1187, alguns comerciantes de Lübeck e Bremen adotaram a idéia de fundar um hospital de campanha durante o cerco de Acre em 1190, que tornou-se o núcleo da ordem; Celestino III a reconheceu em 1192 garantindo aos monges o Código Agostiniano**. Baseado no modelo dos Cavaleiros Templários, ela foi, contudo, transformada numa ordem militar em 1198 e o líder da ordem acabou ficando conhecido como Grande Mestre (magister hospitalis). Ela recebeu ordens papais para os cruzados tomarem e manterem Jerusalém para a cristandade latina e defender a Terra Santa contra os Sarracenos mulçumanos. Durante o reinado do Grande Mestre Hermann von Salza (1209 – 1239), a Ordem mudou sua natureza de albergue de peregrinos para ordem militar.

Originalmente baseado em Acre, os Cavaleiros adquiriram Montfort (Starkenberg), nordeste de Acre, em 1220. Este castelo, que defendia a rota entre Jerusalém e o Mar Mediterrâneo, tornou-se o assento dos Grandes Mestres em 1229, apesar deles terem voltado a Acre após perderem Montfort para os mulçumanos em 1271. A ordem também tinha um castelo próximo a Tarsus na Armênia Menor (Turquia). A ordem recebeu doações de terra no Sacro Império Romano (especialmente na atual Alemanha e Itália), Grécia e Palestina.

* da província de Amalfi, em Salerno, Itália.
** um guia para a vida religiosa segundo os preceitos estabelecidos por Santo Agostinho após sua conversão em 384 d.C., quando doou sua fortuna e levou uma vida de estudos e orações.

O Imperador do Sacro Império Romano Frederico II (1194 – 1250), da Dinastia Hohenstaufen, concedeu ao seu amigo Hermann von Salza o status de Reichsfürst, ou Príncipe do Império, permitindo ao Grande Mestre negociar com outros príncipes mais velhos em condições de igualdade. Durante a coroação de Frederico II como Rei de Jerusalém, em 1225, os Cavaleiros Teutônicos serviram como sua escolta até a Igreja do Santo Sepulcro; von salza leu a proclamação do imperador tanto em francês quanto em alemão. Entretanto, os Cavaleiros Teutônicos nunca foram tão influentes em Outremer como os antigos Templários e os Hospitaleiros.

Em 1211, Andrew II da Hungria (1177 – 1235) aceitou seus serviços e garantiu-lhes o distrito de Burzenland na Transilvânia. Andrew estava envolvido em negociações para o casamento de sua filha com o filho de Hermann, Landgrave da Turíngia, cujos vassalos incluíam a família de Hermann von Salza. Liderados por um irmão chamado Teodorico, a Ordem defendeu a Hungria contra os vizinhos cumanos e assentaram novos colonos alemães entre o povo conhecido como saxões transilvanianos, antigos moradores da região. Em 1224, os Cavaleiros solicitaram ao Papa Honório III para serem colocados diretamente sob autoridade papal, ao invés do Rei da Hungria. Enraivecido e alarmado pelo seu poder crescente, Andrew expulsou-os em 1225, apesar de ter permitido aos novos colonos permanecerem.

Os Cavaleiros vestiam um sobretudo sobre a armadura com uma cruz negra. Uma cruz pattée (uma cruz estreita no centro e larga nas bordas) era algumas vezes usada como o brasão da Ordem; esta imagem foi mais tarde usada para condecoração militar e insígnia pelo Reino da Prússia e Alemanha como a famosa Cruz de Ferro. A figura 1 mostra o brasão dos Cavaleiros Teutônicos.

Prússia

Em 1226, Konrad I, Duque da Masóvia, na Polônia ocidental central, apelou para os Cavaleiros para defenderem suas fronteiras e derrotar os prussianos pagãos bálticos, permitindo aos Cavaleiros Teutônicos em usar a Culmerlândia como base para sua campanha. Sendo esta uma época de extenso fervor cruzado por toda a Europa Ocidental, Hermann von Salza considerou a Prússia como um bom treinamento para seus soldados na guerra contra os mulçumanos em Outremer. Com o Selo Dourado de Rimini, o Imperador Frederico II garantiu à Ordem um privilégio imperial especial para a conquista e posse da Prússia, incluindo a Culmerlândia, com a aprovação nominal papal. Em 1235, os Cavaleiros Teutônicos assimilaram a pequena Ordem de Dobrzyn, que havia sido estabelecida por Konrad.

A conquista da Prússia foi conseguida com muito sangue durante mais de 50 anos, durante o qual os prussianos nativos que permaneceram pagãos foram subjugados, assassinados ou exilados. A luta entre os Cavaleiros e os prussianos foi feroz; estórias da Ordem dão conta de os prussianos serem “queimados se capturados vivos em suas armaduras, como castanhas, diante de um santuário de um deus local.”

A nobreza nativa que se submeteu aos cruzados teve muitos de seus privilégios garantidos no Tratado de Christburg. Após as revoltas prussianas de 1260 – 1283, contudo, muito da nobreza prussiana emigrou ou foi reassentada, e muitos cidadãos livres prussianos perderam seus direitos. A nobreza que permaneceu no lugar aliou-se mais proximamente dos latifundiários alemães e gradualmente foram assimilados. Os camponeses nas regiões fronteiriças, como a Samlândia, tiveram mais privilégios do que em terras mais populosas, como a Pomesânia. Os cavaleiros cruzados freqüentemente aceitavam o batismo como uma forma de submissão dos nativos. O cristianismo ao longo das linhas ocidentais vagarosamente foi incorporado na cultura prussiana.

Cavaleiro da Ordem Teutônica
Bispos eram relutantes em ter práticas religiosas prussianas integradas com a nova fé, enquanto os cavaleiros dominantes acharam mais fácil governar os nativos quando eles eram semi-pagãos ou ilegais.

A Ordem dominou a Prússia sob licença papal e do Imperador do Sacro Império Romano sob a forma de um Estado Monástico, comparável em organização aos Cavaleiros Hospitaleiros em Rodes e, depois, em Malta.

Para recompor as perdas da Peste Negra (1347 – 1351) e substituir a população nativa parcialmente morta, a Ordem encorajou a imigração de colonos do Sacro Império Romano da Nação Alemã (962 – 1806), sendo a maioria alemães, flamengos e holandeses, e da Masóvia (poloneses). Os colonos incluíam nobres, burgueses e camponeses, e os antigos prussianos sobreviventes foram gradualmente assimilados através da “germanização”. Os colonos fundaram numerosas cidades e províncias nos assentamentos prussianos. A própria Ordem construiu um número de castelos (Ordensburgen) a partir dos quais eles poderiam derrotar as revoltas dos velhos prussianos, assim como continuar seus ataques contra o Grã-Ducado da Lituânia e o Reino da Polônia, contra o qual a Ordem constantemente se encontrou em guerra nos séculos XIV e XV. As principais cidades fundadas pela Ordem incluíram Königsberg, fundada em 1255 em honra do Rei Otakar II da Boêmia no lugar de um assentamento prussiano destruído, Allenstein, Elbing e Memel.

Em 1236, os Cavaleiros de São Tomáz, uma Ordem inglesa, adotou as regras da Ordem Teutônica. Os Irmãos Livonianos da Espada (ordem fundada em 1202 pelo Bispo Alberto de Riga) foram absorvidos pelos Cavaleiros Teutônicos em 1237; o ramo livoniano subseqüentemente tornou-se conhecido como Ordem Livoniana. O domínio territorial teutônico estendeu-se sobre a Prússia, Livônia, Semigália e Estônia (países bálticos).

Seu próximo objetivo era converter a Rússia ortodoxa em católica romana, mas após os cavaleiros sofrerem uma derrota desastrosa na Batalha do Lago Peipus (1242), sob o comando do Príncipe Alexander Nevsky de Novgorod (1220? – 1263), este plano foi abandonado. Um destacamento de Cavaleiros Teutônicos supostamente participou em 1241 da Batalha de Legnica, na Silésia, contra os Mongóis.

Apogeu do Poder


Em 1337, o imperador do Sacro Império Louis IV (1282 – 1347) supostamente garantiu à Ordem o privilégio imperial de conquistar toda a Lituânia e Rússia. Durante o reino do Grande Mestre Winrich von Kniprode (1351-1382), a Ordem atingiu o ápice de seu prestígio internacional e manteve um grande número de cruzados europeus e nobreza.

O Rei Alberto da Suécia (1338 – 1412) cedeu a ilha de Gotland para a Ordem como um compromisso, desde que os teutônicos eliminassem a base dos Irmãos Victual, uma irmandade pirata do Mar Báltico, localizada na ilha. Uma força de invasão sob o comando do Grande Mestre Konrad von Jungingen (1355 – 1407) conquistou a ilha em 1398 e expulsou os Irmãos Victual de Gotland e do Mar Báltico.

Em 1386, o Grã-Duque Jogaila da Lituânia foi batizado e casou com a Rainha Jadwiga da Polônia, assumindo o nome de Wadislaw II Jagiello e tornando-se Rei da Polônia. Isto criou uma união pessoal entre os dois países e um adversário potencialmente formidável contra os Cavaleiros Teutônicos. A Ordem inicialmente tentou jogar Jagiello e seu primo Vytautas, Grã-Duque da Lituânia (1401 – 1430), um contra o outro, mas esta estratégia falhou quando Vytautas começou a suspeitar que a Ordem planejava anexar partes de seu território.

O batismo de Jagiello começou a conversão oficial da Lituânia para o Cristianismo. Apesar da cruzada da Ordem terminar quando a Prússia e Lituânia terem se convertido oficialmente ao Cristianismo, os feudos da Ordem prosseguiram as guerras contra a Lituânia e a Polônia. A União Lizard foi criada em 1397 por nobres prussianos na Culmerlândia para se opor à política da Ordem.

Em 1407, a Ordem alcançou sua máxima expansão territorial e incluía as terras da Pomerelia, Samogitia, Curlândia, Livônia, Estônia, Gotland, Dagö, Ösel e Neumark, esta última comprada de Brandenburgo em 1402. A figura 3 mostra a máxima expansão territorial da Ordem.

Declínio
Em 1410 na Batalha de Tannenberg – conhecida em polonês como Batalha de Grunwald e na Lituânia como Batalha de Zalgiris – um exército combinado polonês-lituano, liderado por Vladyslav II Jagiello e Vytautas, derrotou decisivamente a Ordem. O Grão-Mestre Ulrich Von Jungingen e a maioria dos altos dignatários da Ordem foram mortos na batalha (50 de 60). O exército polonês-lituano então cercou a capital da Ordem, Marienburg, mas foi incapaz de tomá-la devido à resistência de Henrique Von Plauen. Quando a Primeira Paz de Thorn foi assinada em 1411, a Ordem conseguiu manter essencialmente todos os seus territórios, apesar da reputação de invencibilidade dos Cavaleiros ter sido arranhada.

Enquanto Polônia e Lituânia cresciam em poder, os Cavaleiros Teutônicos diminuíam sua força. Eles foram obrigados a impor altos impostos no sentido de pagar uma indenização de guerra substancial, mas não deram às cidades suficiente representação na administração de seu estado. O autoritário e reformista Grão-Mestre Henrique Von Plauen foi forçado a abdicar e foi substituído por Michael Küchmeister von Sternberg, mas o novo Grão-Mestre foi incapaz de reviver a fortuna da Ordem. Após a Guerra de Gollub, os Cavaleiros perderam pequenos pedaços de regiões fronteiriças e renunciaram à todas as exigências sobre a região da Samogitia (Lituânia) no Tratado de Melno em 1422.

Cavaleiros da Áustria e da Bavária rivalizavam com os da Renânia, os quais, por sua vez, brigavam com os Saxões da Baixa Alemanha, de cujas fileiras o Grão-Mestre era geralmente escolhido. As terras ocidentais da Prússia do Vale do Rio Vistula e do Brandenburgo Neumark foram devastadas pelos hussitas (cristãos tchecos) durante as Guerras Hussitas. Alguns Cavaleiros Teutônicos foram enviados para enfrentar os invasores, mas foram derrotados pela infantaria boêmia. Os Cavaleiros também foram derrotados na Guerra Polonesa-Teutônica (1431-1435).

Em 1454, a Confederação Prussiana, consistindo de nobres e burgueses da Prússia Ocidental, levantou-se contra a Ordem, começando a Guerra dos Trinta Anos. A maior parte da Prússia foi devastada na guerra, durante a qual a ordem retornou Neumark para Brandenburgo em 1455. Na Segunda Paz de Thorn (1466), a ordem derrotada reconheceu os direitos da Coroa Polonesa sobre a Prússia Ocidental (subseqüentemente Prússia Real) enquanto mantinha a Prússia oriental sob controle polonês. Pelo fato do castelo de Marienburg ser tomado por mercenários em troca de seu pagamento, a Ordem se mudou para sua base em Königsberg, na Sambia.

Texto de Emerson Paubel

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